Os resultados do Enem 2024 trouxeram um dado alarmante: entre 4,3 milhões de inscritos, apenas 12 redações (0,00028% do total) atingiram a nota máxima, sendo uma delas de um estudante de escola pública. Isso não é apenas um número; é um reflexo de como a produção textual – uma habilidade essencial para a vida acadêmica e profissional – tem sido tratada em nossas escolas. A questão que emerge é: como chegamos aqui?
Redação: Uma habilidade negligenciada na Educação Básica
A escrita é uma ferramenta de empoderamento, mas, nas escolas públicas, ainda é vista como secundária. Em muitas instituições, a prática da redação é limitada a poucas semanas antes do Enem, com foco mais em preencher critérios técnicos do que em desenvolver a capacidade crítica e criativa dos alunos. Faltam recursos, planejamento e, acima de tudo, prioridade no currículo escolar.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece competências importantes para a leitura e produção textual, mas sua aplicação prática enfrenta desafios. Professores sobrecarregados, turmas numerosas e uma abordagem pedagógica que privilegia o ensino conteudista contribuem para o abandono de práticas que poderiam tornar a escrita parte central do aprendizado.
Por este motivo, ressalto: Temos alunos copistas; essa é a realidade. Muitos professores limitam-se a pedir que os estudantes transcrevam trechos de livros e citações, o que prejudica o desenvolvimento da produção textual quando ela finalmente é exigida, com no ENEM. Na escola, precisamos exercitar e caso o aluno não escreva bem, isso não deveria ser encarado como um problema definitivo, mas como uma oportunidade para incentivá-lo a melhorar continuamente por meio de uma abordagem pedagógica mais construtiva e focada em suas necessidades.
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Formação Continuada e Especialização: O caminho para a mudança
Uma solução viável seria a presença de professores especializados em redação desde o ensino fundamental II até o ensino médio. Em países com índices elevados de alfabetização funcional, como Finlândia e Coreia do Sul, a escrita é trabalhada de forma contínua, com profissionais capacitados e metodologias específicas.
Além disso, a formação continuada para os docentes deve ser uma prioridade. Cursos de aperfeiçoamento em ensino da escrita, aliados a práticas inovadoras, como oficinas de redação, uso de tecnologia e feedback individualizado, podem transformar o ensino da produção textual mudando esse realidade que presenciamos neste ano de 2025, após a divulgação dos resultados do ENEM 2024, pelo INEP.
Em tempos de inteligência artificial generativa, a escola deveria estar preparada para incentivar cada vez mais a leitura e a escrita, preparando seus alunos para um futuro que exigirá cada vez mais do ser humano, uma competência tipicamente humana: o ato de pensar fora da caixa.
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Gestão escolar, tempo e espaço para a Leitura e Escrita
Outro ponto crucial é dedicar mais tempo no currículo para o ensino de redação. É fundamental que, pelo menos, uma aula semanal seja reservada exclusivamente para a prática da escrita. Essa decisão, vinda tanto da equipe diretiva quanto dos professores de Língua Portuguesa, representaria um grande avanço. E vale destacar, esse tempo não deveria ser usado apenas para a produção de textos, mas também para a discussão de temas atuais, o estudo de estruturas textuais e o incentivo à leitura crítica – afinal, bons escritores são, acima de tudo, leitores engajados.
Vale destacar que a gestão escolar também tem um papel decisivo. Incentivar projetos de leitura e escrita, como concursos, feiras literárias e parcerias com universidades, pode despertar o interesse dos alunos e criar uma cultura de valorização da redação. É essencial também envolver as famílias, mostrando a importância da prática contínua da leitura e da escrita no dia a dia.
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Conclusão: O desafio de priorizar a Redação
O fato de apenas 12 redações terem alcançado a nota mil no Enem 2024 expõe um problema estrutural: a redação ainda não é prioridade em nossas escolas públicas. É urgente investir em formação docente, ampliar o tempo dedicado à escrita e adotar políticas que promovam a prática textual desde os primeiros anos de escolaridade. Somente assim podemos formar cidadãos capazes de se expressar com clareza, pensamento crítico e originalidade.
A educação precisa dar à escrita o espaço que ela merece, pois, como dizia Paulo Freire, “a palavra é o instrumento primeiro da transformação do mundo”. E transformar o mundo começa por dar voz aos nossos estudantes.