Manifestações Religiosas no Amazonas – Diversidade, Tolerância e Intolerância

O estado do Amazonas apresenta um mosaico religioso diverso, resultado de séculos de influências culturais e históricas. Tradicionalmente de maioria católica, a região vem passando por mudanças significativas no perfil de fé da população. Entre 2010 e 2022, a proporção de católicos no Amazonas caiu de cerca de 60% para 47%, enquanto os evangélicos subiram de aproximadamente 30% para 39%. Católicos e evangélicos hoje disputam espaço quase em pé de igualdade, ao lado de uma miríade de outras crenças: religiões afro-brasileiras (como Umbanda e Candomblé), tradições indígenas ancestrais, o espiritismo kardecista, além de minorias como espiritualidades orientais, judaísmo e islamismo. 

Diante dessa pluralidade, emergem desafios de convivência – a diversidade religiosa é uma riqueza cultural, mas episódios de intolerância lembram a necessidade de fortalecer a tolerância e o respeito mútuo. Neste texto, vamos explorar as manifestações religiosas no Amazonas, debatendo casos de intolerância religiosa, reflexões sociológicas sobre a disputa simbólica no campo da fé, os efeitos do crescimento neopentecostal, a colonialidade da fé e o apagamento de práticas tradicionais, e o papel da educação na promoção dos direitos humanos e do respeito à diversidade, em consonância com a BNCC. O objetivo é oferecer uma análise crítica e acessível, mobilizadora e educativa, incentivando o respeito às diferenças religiosas e o protagonismo juvenil na construção de uma sociedade mais tolerante.

O Mosaico Religioso no Amazonas: Um Panorama Histórico e Atual

A diversidade religiosa amazonense foi moldada por processos históricos. A partir da colonização, o catolicismo romano tornou-se dominante – os missionários católicos fundaram aldeamentos e cidades, difundindo a nova fé e muitas vezes suprimindo cultos indígenas. Durante séculos, a Igreja Católica exerceu forte influência social e política, sendo fundamental para a formação de muitas comunidades tradicionais no interior da Amazônia (ALVES, PEREIRA e D'ANTONA; 2024). Essas comunidades rurais geralmente se estruturavam em torno de um santo padroeiro e das festas religiosas, integrando elementos católicos a costumes locais.

No último século, porém, o cenário se pluralizou. Igrejas protestantes e evangélicas (especialmente as de vertente pentecostal e neopentecostal) cresceram exponencialmente, ocupando territórios antes predominantemente católicos. Hoje, templos evangélicos espalham-se pelos bairros urbanos de Manaus e até por vilarejos ribeirinhos isolados. Pesquisas recentes mostram que, em muitas comunidades tradicionais, as igrejas evangélicas passaram a ter um papel central na organização social local, papel antes exercido pela Igreja Católica – constroem templos, seus pastores circulam entre diversas aldeias e atuam como líderes comunitários cotidianos (ALVES, PEREIRA e D'ANTONA; 2024). Essa “ocupação religiosa” cria redes de comunidades interligadas pela fé, demonstrando como religião e território estão profundamente entrelaçados no Amazonas.

Paralelamente, outras manifestações floresceram. O espiritismo kardecista – doutrina espiritual de origem francesa bastante disseminada no Brasil – possui centros ativos em Manaus e outras cidades. As religiões afro-brasileiras, como Umbanda e Candomblé, apesar de terem nascido em outras regiões do país, fincaram raízes na Amazônia: terreiros existem tanto em zonas urbanas como rurais, preservando rituais, toques de tambor e devoção aos orixás, muitas vezes de forma sincrética com santos católicos. Em comunidades quilombolas da região, a espiritualidade de matriz africana também se manifesta como parte da identidade cultural. 

Já as tradições religiosas indígenas – pajelanças, cultos aos espíritos da natureza, uso ritual de plantas sagradas – seguem vivas especialmente dentro de territórios indígenas, embora muitas tenham incorporado elementos cristãos devido a séculos de catequese. Povos originários como os Tukano, Baniwa, Yanomami, dentre outros, mantêm cosmologias próprias, nas quais a relação espiritual com o território amazônico (rios, florestas, animais) é central para sua identidade. Há ainda grupos religiosos menores, como comunidades muçulmanas (há registro de fiéis islâmicos em Manaus) e algumas famílias de tradições orientais ou novas espiritualidades, compondo o caleidoscópio de crenças no estado. Em resumo, o Amazonas abriga uma pluralidade única de manifestações religiosas, refletindo influências indígenas, africanas, europeias e asiáticas – uma riqueza de fés que coexiste no mesmo espaço social.

Esse panorama atual, confirmado pelos dados censitários mais recentes, indica que nenhum grupo religioso detém hegemonia absoluta. O catolicismo permanece o maior grupo individual (47% dos amazonenses em 2022), mas já não é maioria absoluta. Os evangélicos chegam a quase 39% e seguem em ascensão, sendo o Amazonas hoje um dos estados com maior proporção de evangélicos do país (IBGE, 2022). Os declarados “sem religião” também aumentaram, assim como praticantes de credos diversos (Umbanda, Candomblé, outras religiosidades). Essa distribuição indica um campo religioso plural e dinâmico, marcado tanto pela diversidade cultural quanto por uma crescente competição simbólica entre as crenças estabelecidas.

Diversidade Religiosa como Riqueza Cultural

A diversidade religiosa do Amazonas deve ser compreendida como patrimônio cultural. Cada tradição de fé carrega saberes, símbolos, celebrações e valores que enriquecem o mosaico sociocultural da região. Reconhecer e valorizar essa pluralidade significa entender que há múltiplos caminhos espirituais trilhados pelas pessoas, todos com direito de existir e de serem respeitados.

A mistura de influências no Amazonas gerou expressões religiosas singulares. Por exemplo, em certas comunidades indígenas cristianizadas, celebra-se o Natal ou o Dia do Santo padroeiro junto com rituais tradicionais indígenas – incorporando cantos na língua nativa, danças e referências à natureza, num sincretismo que afirma a identidade local. Já nos terreiros afro-amazônicos, pode-se ver a fusão de elementos afro-brasileiros com referências amazônicas: entidades espirituais que representam caboclos das matas, indígenas e antigos escravizados da região são cultuadas, unindo a religiosidade africana às memórias históricas locais. Essas criações híbridas ilustram como a diversidade religiosa é também criativa, produzindo novas culturas a partir do encontro de diferentes tradições.

É importante destacar que a presença de múltiplas religiões coexistindo proporciona um ambiente fértil para o diálogo intercultural. Quando respeitada, a diversidade de crenças pode promover trocas de conhecimentos e valores. Um exemplo positivo são eventos ecumênicos e inter-religiosos organizados em Manaus e outras cidades – encontros em que lideranças católicas, evangélicas, espíritas, umbandistas, indígenas e de outras fés se reúnem para dialogar e celebrar a paz. Esses eventos reforçam a ideia de que todas as tradições têm algo a contribuir para a harmonia social e para a compreensão mútua. A diversidade religiosa, nesse sentido, é comparável à biodiversidade da floresta amazônica: assim como o ecossistema se fortalece pela variedade de espécies, a sociedade se enriquece pela pluralidade de crenças.

Do ponto de vista educativo e cultural, conhecer a variedade das religiões locais ajuda os jovens a valorizar suas próprias raízes e as dos colegas. Muitas escolas do Amazonas já incluem em seus projetos pedagógicos o estudo das manifestações religiosas regionais, apresentando-as como parte da história e cultura do povo amazonense. Isso atende, inclusive, às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que enfatiza o respeito ao multiculturalismo e à diversidade religiosa como componentes essenciais da formação cidadã (SANTOS, 2020). Ao compreender que a fé do outro tem significado e merece respeito, o estudante amplia sua visão de mundo e pratica a empatia. Cultivar essa apreciação pela diversidade desde cedo é fundamental para que as diferenças não sejam fonte de conflito, mas sim de aprendizado. Em suma, a diversidade de fé é uma riqueza cultural do Amazonas – um legado vivo das múltiplas influências que formaram a região –, e deve ser celebrada e preservada como tal, pois dela deriva parte importante da identidade e da criatividade do povo amazonense.

Intolerância Religiosa no Amazonas: Casos Recentes e Desafios

Embora a diversidade seja um tesouro, infelizmente nem sempre prevalece a tolerância. O Amazonas, assim como o Brasil em geral, enfrenta casos de intolerância religiosa, muitas vezes dirigidos contra religiões de minorias ou de matriz africana e indígena. Essa intolerância se manifesta por meio de discriminação, ofensas, vandalismo e até agressões físicas, ferindo os direitos humanos e a liberdade de crença assegurada na Constituição Brasileira (art. 5º, VI) (BRASIL, 1988). A seguir, discutimos alguns episódios concretos e o contexto desses desafios na região.

Um caso emblemático recente ocorreu em abril de 2024, envolvendo a cultura popular do boi-bumbá de Parintins. A cantora Mara Lima, do Boi Caprichoso, relatou ter sido agredida fisicamente e verbalmente por um homem em Manaus pelo simples fato de usar uma camisa do boi-bumbá. O agressor a golpeou com uma chave de carro e desferiu um soco, chamando a camiseta e o boi de “do demônio” e dizendo frases como “tira essa camisa, ela traz desgraça. O boi é do inimigo” (CNN, 2024)

Essa violência chocante – motivada por fanatismo religioso – evidencia como elementos da cultura regional (no caso, o festival do boi, que embora seja folclórico, tem raízes em rituais indígenas e afro-brasileiros) podem se tornar alvo de ódio por parte de alguns grupos religiosos radicais. O episódio gerou ampla comoção; artistas e autoridades culturais manifestaram repúdio e lembraram que o boi-bumbá é uma das grandes expressões artísticas e culturais do estado, merecendo respeito. O agressor foi detido, mas o incidente acendeu o alerta sobre a intolerância religiosa e cultural ainda presente na sociedade (CNN, 2024).

Outro exemplo ilustra a islamofobia – preconceito contra muçulmanos – mesmo em um estado onde os praticantes do Islã são poucos. Em 2021, a manauara Ana Rita Gomes Vieira, muçulmana de 41 anos, foi vítima de discriminação em um posto de vacinação contra Covid-19. Ao vê-la usando um lenço tradicional (keffiyeh) e máscara com cores da Palestina, uma enfermeira “brincou” dizendo ter medo que ela “soltasse uma bomba” no local (UOL; 2021). 

A insinuação proposital de terrorismo, estereotipando a fiel pelo traje religioso, deixou Ana Rita profundamente ofendida. Ela filmou a situação e denunciou o caso às autoridades. A Prefeitura de Manaus lamentou o ocorrido e informou que a profissional de saúde seria reorientada. Esse episódio mostra que a ignorância e preconceitos importados de conflitos globais também repercutem localmente, atingindo minorias religiosas que deveriam ter seu direito de crença garantido sem sofrer chacota ou suspeitas infundadas (UOL; 2021).

Mãe Betânia de Oxalá (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

No entanto, os alvos mais frequentes da intolerância religiosa no Amazonas – como no Brasil – são os praticantes de religiões de matriz africana. Lideranças umbandistas e candomblecistas amazonenses relatam enfrentar um racismo religioso cotidiano, que varia de olhares tortos e recusas de serviço até ataques diretos a seus templos (terreiros). Um caso marcante ocorreu na véspera de Natal de 2021: Mãe Betânia de Oxalá, uma mãe de santo em Manaus, teve o muro de seu terreiro pichado com frases como “Jesus salva” e “sangue de Jesus tem poder”, insinuando que sua fé seria “do demônio” (LEVY, 2022). 

O autor da pichação era funcionário de uma companhia de energia que estivera no local e, movido por fanatismo, vandalizou a propriedade sagrada. Mãe Betânia procurou a Justiça e venceu a causa – o agressor foi demitido da empresa e ela recebeu indenização. Ainda assim, a ferida emocional permanece: “aquilo me agrediu bastante”, desabafou a religiosa, e as frases de ódio ainda marcam o seu muro, lembrando diariamente da intolerância sofrida (LEVY, 2022).

Casos como esse infelizmente não são isolados. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas indicam que 29 crimes de racismo ou intolerância religiosa foram registrados no estado apenas em 2021 – e possivelmente há subnotificação, pois muitas vítimas não denunciam. Grande parte envolve agressões a terreiros afro-religiosos ou a seus praticantes, incluindo episódios como vizinhos tentando interromper cultos com insultos, evangélicos se recusando a prestar serviços (como motoristas de aplicativo cancelando corridas ao ver passageiros vestidos de branco do candomblé) e até tentativas de “demonizar” os fiéis durante abordagens públicas (LEVY, 2022)

Em Manaus, líderes como Babá Jean Marius relatam que faltam campanhas públicas de conscientização e apoio às comunidades de terreiro, e que o avanço de um conservadorismo religioso nos últimos anos deixou as minorias religiosas desamparadas. Esse contexto levou essas comunidades a se organizarem em movimentos de resistência e apoio mútuo, como a criação de associações culturais afro-religiosas para dar visibilidade aos saberes tradicionais e combater o preconceito (LEVY, 2022).

A intolerância religiosa frequentemente se entrelaça com racismo estrutural. Conforme salientou o historiador Marcos Alves, desde a colonização as crenças indígenas e africanas foram reprimidas e tratadas como inferiores (SEJUSC-AM, 2024). Essa herança racista perdura quando, por exemplo, terreiros afro são atacados ou desrespeitados, ou quando instituições ignoram deliberadamente essas tradições. 

Um exemplo de intolerância institucional ocorreu na Câmara Municipal de Manaus, em abril de 2022: realizou-se uma tribuna sobre “liberdade religiosa”, porém foram convidados apenas líderes religiosos cristãos (evangélicos e católicos), excluindo representantes de religiões afro, espíritas, judeus, muçulmanos etc. Entidades como a Articulação Amazônica de Povos de Terreiro (Aratrama) protestaram, chamando o evento de “desrespeitoso e excludente” – uma encenação de diálogo em que só as maiorias tiveram voz, reflexo da intolerância peculiar de igrejas neopentecostais radicais que dominam espaços políticos locais (LEVY, 2022). Tais episódios evidenciam que a luta pela tolerância não se dá apenas no nível interpessoal, mas também nas estruturas de poder e representação.

É fundamental lembrar que intolerância religiosa é crime no Brasil, previsto no art. 208 do Código Penal, sujeito a pena de detenção ou multa (BRASIL, CP). Além disso, configura frequentemente crime de racismo quando dirigida a religiões afro (conhecido como racismo religioso). Em 21 de janeiro celebra-se o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, em memória de Mãe Gilda de Ogum – uma yalorixá baiana cuja morte foi precipitada por perseguições religiosas. Nessa data e ao longo do ano, órgãos como a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Amazonas (SEJUSC) promovem ações educativas, palestras em escolas e campanhas públicas para conscientizar sobre a liberdade de crença e encorajar denúncias (SEJUSC, 2024). De fato, a denúncia é crucial: vítimas de intolerância devem procurar uma delegacia ou o Ministério Público, pois só com visibilidade e ação legal esses crimes podem ser coibidos.

Em síntese, os casos de intolerância religiosa no Amazonas nos alertam para a necessidade de vigilância e educação permanente. A pluralidade de fés convive com tensões e incompreensões que, se não forem trabalhadas, podem explodir em violência. Combater a intolerância requer punir os agressores, mas sobretudo prevenir, através da difusão da cultura do respeito e do diálogo. É um desafio que envolve toda a sociedade – das famílias às escolas, das igrejas às autoridades – e especialmente os jovens, para que assumam uma postura de protagonistas na promoção da tolerância em suas comunidades.

Religião, Poder Simbólico e Disputa Política

A esfera religiosa não é apenas questão de fé pessoal – é também um campo de disputa simbólica e política na sociedade. No Amazonas, assim como no Brasil, diferentes grupos religiosos competem por legitimidade, fiéis, espaço público e influência sobre valores e leis. Essa disputa, analisada pela sociologia, mostra a religião como um fenômeno social dinâmico, onde poder e crença se entrelaçam.

Uma forma de entender essa dinâmica é pelo conceito de “poder simbólico”: lideranças religiosas detêm autoridade sobre visões de mundo e podem mobilizar seguidores em torno de causas sociais ou políticas. Historicamente, a Igreja Católica monopolizou esse espaço – por exemplo, através das Romarias, festivais como o Círio de Nazaré em Manaus (inspirado no famoso Círio paraense) e a presença de padres influentes, a Igreja definia, em grande medida, normas morais e até influenciava políticas públicas locais. A Teologia da Libertação, corrente católica de forte atuação na Amazônia nas décadas de 1970-80, organizou movimentos populares e participou de lutas sociais (como pela reforma agrária e direitos indígenas), evidenciando o engajamento político da religião.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Porém, com o crescimento evangélico, especialmente neopentecostal, o “campo religioso” ganhou novos atores competitivos. Igrejas neopentecostais – como a Universal do Reino de Deus, a Assembleia de Deus (em suas múltiplas convenções), a Igreja Internacional da Graça, Igreja da Restauração, entre outras presentes no Amazonas – têm estratégias ativas de expansão e de conquista de corações e mentes. Muitas dispõem de mídias próprias (rádios, TVs, redes sociais) e utilizam uma linguagem moderna para atrair fiéis, prometendo não só salvação espiritual mas também solução de problemas cotidianos (cura de doenças, prosperidade financeira, libertação de vícios). Esse discurso mobiliza identidades e cria uma base social coesa que, não raro, se traduz em capital político. Líderes dessas igrejas frequentemente orientam seus fiéis em questões de costumes e até de voto, formando o que se chama de “curral eleitoral” religioso – embora, como ressalta o sociólogo Ricardo Mariano, os fiéis não sigam cegamente as orientações, a identidade religiosa pesa nas escolhas políticas (MARIANO, 2021).

Hoje, observa-se no Amazonas uma considerável bancada evangélica em câmaras municipais, na Assembleia Legislativa e representação no Congresso, espelhando o cenário nacional. Políticos-pastores ou apoiados por igrejas utilizam sua plataforma religiosa para angariar votos e, depois de eleitos, defendem pautas alinhadas aos valores de seus grupos (por exemplo, oposição a direitos reprodutivos, resistência a políticas pró-LGBTQIA+, ou priorização de leis de incentivo às igrejas). Isso gerou, de fato, uma força de pressão política: os evangélicos, especialmente neopentecostais, constrangem e submetem políticos de várias legendas a atender seus interesses, dada sua capacidade de influenciar parcelas significativas do eleitorado (MARIANO, 2021). 

No Amazonas, um exemplo foi a eleição para prefeito de Manaus em 2020: diversos candidatos buscaram ativamente apoio de líderes evangélicos, e o vencedor, David Almeida, é ele próprio um evangélico declarado, tendo adotado slogans de campanha que evocavam fé (“força, foco e fé”, por exemplo) (BALLOUSSIER, 2021). Esse cenário indica que a disputa religiosa transborda do templo para a arena pública, tornando temas religiosos parte do debate político local.

Entretanto, a “guerra santa” política não ocorre apenas entre religiosos x secularistas; muitas vezes é intra-religiosa. A disputa entre católicos e evangélicos pela influência em comunidades indígenas é um caso ilustrativo. Nas últimas décadas, missionários evangélicos de várias denominações intensificaram esforços de conversão entre povos indígenas do Amazonas, inclusive grupos remotos. Isso gerou atritos com missões católicas que já atuavam – como no caso dos Suruwahá, em que missionários evangélicos da Missão Novas Tribos (JOCUM) foram acusados de demonizar as práticas tradicionais indígenas, chamando-as de “coisas do demônio” e impondo costumes cristãos na aldeia. O Conselho Indigenista Missionário (ligado à Igreja Católica) levou o caso à Justiça, que determinou a retirada dos missionários evangélicos daquela terra indígena (ROCHA, 2008)

Por trás desse conflito religioso estava também uma questão política: os evangélicos defendiam um projeto de lei (PL 1057/2007) para criminalizar o chamado “infanticídio indígena” – prática rara em algumas etnias – usando o argumento da defesa da vida para intervir nos costumes locais, ao passo que indigenistas e setores da Igreja Católica viam isso como pretexto para entrar nas aldeias e converter os índios. O antropólogo Gersem Baniwa (ele próprio indígena do Amazonas) resumiu bem: “qualquer religião organizada pode ser perversa com os indígenas; os missionários colonizam impondo o pecado e o medo do inferno. As religiões ocidentais surgiram para dominar cultural e espiritualmente, é um imperialismo religioso que acaba com a vida coletivista das aldeias” (BANIWA apud ROCHA, 2008). Essa fala conecta religião, poder simbólico e colonialismo (tema que exploraremos adiante), mostrando que a disputa religiosa pode ameaçar a identidade e autonomia de povos tradicionais em nome de uma “salvação” padronizada.

No campo urbano e midiático, a disputa simbólica se evidencia no crescimento das igrejas eletrônicas e eventos de massa. Manaus sedia regularmente grandes shows gospel e cruzadas evangélicas em estádios, assim como procissões católicas multitudinárias (como a do Círio de Nazaré local). Esses eventos extrapolam a esfera espiritual e se tornam demonstrações de força social. Não por acaso, o governo estadual tem até buscado incluir o Amazonas na rota do “turismo religioso evangélico”, visto o potencial econômico e político desses encontros (VEIGA, 2025). Há, portanto, uma instrumentalização econômica e política da fé: desde isenção de impostos para templos até concessão de espaços públicos para eventos religiosos, as políticas públicas são frequentemente influenciadas pelas religiões predominantes.

Em resumo, a religião no Amazonas atua como um campo de disputas simbólicas e de poder, onde diferentes igrejas e crenças buscam afirmação e influência. Isso acarreta tensões – seja nas “guerras de audiência” por fiéis, seja na pressão direta sobre políticas e direitos. Por isso, é crucial que a sociedade – especialmente os jovens – desenvolva um olhar crítico: compreender que por trás de discursos religiosos podem existir projetos de poder, e que a liberdade religiosa deve caminhar junto com a laicidade do Estado (nenhuma religião deve impor-se sobre o interesse público ou os direitos de minorias). A disputa simbólica faz parte da vida social, mas suas regras precisam respeitar a pluralidade e a democracia, impedindo que qualquer credo oprima os demais ou capture o Estado em benefício próprio.

Religião, Identidade e Território na Amazônia

No Amazonas, religião, identidade cultural e território estão profundamente interconectados. As crenças não existem no vácuo – elas se enraízam em espaços geográficos específicos e nas vivências das comunidades. Assim, entender as manifestações religiosas na região requer olhar para como o território amazônico molda a espiritualidade e vice-versa, e como a fé se torna parte da identidade dos povos da floresta, dos rios e das cidades.

Para as populações indígenas, essa relação é evidente: espiritualidade e território são inseparáveis. As florestas, rios, animais e fenômenos naturais do Amazonas são considerados repletos de espíritos e encantados em diversas cosmovisões indígenas. Por exemplo, para os povos do Rio Negro (como os Tukano e Dessana), a geografia dos rios corresponde a itinerários sagrados percorridos pelos antepassados míticos; cada cachoeira, cada montanha, tem um significado espiritual. Os rituais – como a dabucuri (festa de troca) ou as cerimonias de tucandeira dos Sateré-Mawé – afirmam a ligação entre a comunidade e seu território. Quando esses povos adotam também elementos do cristianismo, tendem a reterritorializar a fé: o santo católico padroeiro, por exemplo, pode ser associado a um protetor da natureza, e as procissões podem integrar cantos na língua nativa invocando a proteção da floresta. Ou seja, o território amazônico continua no centro da religiosidade indígena, mesmo quando há sincretismo com religiões exógenas.

Entre as comunidades ribeirinhas e caboclas (descendentes de indígenas, africanos e europeus) do interior, a identidade local costuma se expressar em festejos religiosos que marcam o calendário agrícola ou pesqueiro. Festejos de santos católicos, como São João, São Pedro ou Nossa Senhora, muitas vezes coincidem com períodos de safra, vazante ou cheia dos rios – são momentos de agradecer e pedir bonança, integrando elementos da natureza (como a bênção dos barcos, a procissão fluvial com imagens, etc.). Nesses contextos, a identidade cabocla amazônica se manifesta numa fé popular menos ortodoxa, que combina rezas católicas, superstições regionais (como lendas de boto, cura com benzimentos) e às vezes práticas de pajelança herdadas de antepassados indígenas. O território – rio, igarapé, mata em volta – é palco e participante do rito. Por exemplo, no Festival do Guaraná em Maués ou no próprio Festival de Parintins (Boi-Bumbá), há componentes claramente religiosos (rituais indígenas encenados, homenagens a entidades como Pai Francisco e Mãe Catirina) mostrando que cultura e espiritualidade local se nutrem mutuamente do ambiente natural e histórico.

Com o avanço evangélico em áreas tradicionais, ocorrem também choques identitários ligados ao território. Igrejas pentecostais muitas vezes condenam práticas culturais locais – danças, uso de bebidas tradicionais, folguedos – classificando-as como “pecado” ou “culto pagão”. Assim, quando uma comunidade ribeirinha ou aldeia indígena passa por um processo de conversão massiva a uma igreja, pode haver ruptura cultural: festas tradicionais podem ser abandonadas, referências ancestrais vistas como “do demônio” são descartadas. Isso gera um vazio ou uma mudança brusca na identidade coletiva. Ao mesmo tempo, os convertidos passam a se identificar por uma nova comunidade de fé que transcende o local – por exemplo, uma rede de igrejas Batista ou Assembleia de Deus que conecta diversas vilas numa espécie de “território religioso” paralelo, com encontros regionais, congressos de jovens, etc. Esse fenômeno foi observado no Baixo Rio Negro, onde as igrejas evangélicas criaram uma rede territorial entre as comunidades, articulando deslocamentos de pastores e fiéis e estabelecendo uma nova centralidade social em torno do templo (ALVES et al., 2024). Para os moradores, isso pode significar trocar uma identidade comunitária tradicional (ligada à família extensa, ao santo padroeiro, ao pajé) por uma identidade religiosa ampla, compartilhada com outros que nem vivem no mesmo território físico, mas num “território-rede” da denominação religiosa.

Esse processo levanta reflexões: o que se perde e o que se ganha? Por um lado, a inserção em redes religiosas maiores pode trazer recursos e apoio – igrejas evangélicas frequentemente oferecem ajuda material, como cestas básicas, e atuam como espaço de sociabilidade para os jovens, com música, eventos, etc., preenchendo lacunas onde o Estado é ausente. Por outro lado, o apagamento de práticas culturais ligadas ao território representa uma perda de patrimônio imaterial e enfraquece a diversidade cultural local. Há casos de aldeias indígenas em que os mais velhos lamentam que os jovens convertidos já não queiram aprender os cantos tradicionais ou participar das danças espirituais, enfraquecendo a transmissão de conhecimentos ancestrais (VIEIRA, 2018). Em comunidades afro-amazônicas, a presença de igrejas neopentecostais combativas resultou em terreiros fechando as portas ou se escondendo, o que impacta não só a religiosidade mas toda uma rede de saberes (ervas medicinais, culinária ritual, histórias orais) que existia em torno deles.

Em Manaus e outras cidades, a relação território e religião se vê, por exemplo, na segmentação urbana por filiação religiosa: bairros inteiros podem ser conhecidos pela quantidade de igrejas evangélicas, enquanto outros têm tradição católica ou espírita. A Paisagem urbana reflete isso com arquiteturas religiosas: das antigas igrejas católicas no centro histórico de Manaus às modernas mega-igrejas nas avenidas, passando pelos terreiros discretamente localizados nas periferias. Cada um desses espaços sagrados territorializa a cidade, criando microcosmos de identidade. Os fiéis se sentem pertencentes não só a uma crença, mas a um lugar de culto específico, uma comunidade local de referência.

Por fim, vale mencionar que conflitos territoriais na Amazônia também ganham contornos religiosos. Em disputas por terras indígenas ou quilombolas, é comum que lideranças desses povos invoquem sua espiritualidade ligada à terra para justificar a resistência (“nossos espíritos ancestrais protegem essa floresta”). Inversamente, já houve casos de invasores e grileiros incentivando a entrada de missionários evangélicos para enfraquecer a coesão espiritual indígena, facilitando a colonização – uma tática perversa onde a religião vira arma para conquistar território. Isso reforça a ideia de colonialidade da fé, discutida a seguir.

Em conclusão desta seção, compreender religião, identidade e território na Amazônia é perceber que a fé é parte do modo de vida, seja na aldeia, na beira do rio ou na metrópole. Valorizar as diferentes manifestações religiosas regionais implica reconhecer seu vínculo com a terra e a cultura local. Para a juventude, especialmente a indígena, quilombola e ribeirinha, reconectar-se com as tradições espirituais do seu território pode ser uma forma de fortalecer sua identidade diante das rápidas mudanças atuais. E para todos os jovens amazonenses, conhecer essa dimensão territorial da religião ajuda a construir o respeito: entendemos que quando uma prática religiosa é atacada, não é apenas “a crença do outro” em abstrato – é todo um modo de ser de uma comunidade que está em jogo.

O Crescimento Neopentecostal e Seus Efeitos Sociais

Um dos fenômenos mais impactantes no campo religioso amazonense nas últimas décadas é o crescimento das igrejas neopentecostais. Chamamos de neopentecostais as denominações evangélicas surgidas a partir dos anos 1970/80, com características como ênfase na teologia da prosperidade, forte uso dos meios de comunicação, rituais de cura e exorcismo, e uma estrutura institucional centrada em líderes carismáticos (bispos, apóstolos). No Amazonas, elas vêm ganhando terreno em áreas urbanas e rurais, trazendo consequências sociais e culturais significativas.

Entre as maiores neopentecostais presentes no estado estão a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja do Evangelho Quadrangular, a Mundial do Poder de Deus, além de centenas de igrejas independentes de corte similar. Seu avanço pode ser medido pelo aumento de templos: basta andar pelos bairros de Manaus para ver muitos galpões transformados em igrejas com nomes como “Ministério de Poder X” ou “Comunidade Y de Milagres”. Algumas realizam cultos diários e múltiplos horários aos domingos, atraindo milhares de pessoas com promessas de milagres imediatos e uma mensagem de renovação de vida. Nas zonas rurais, pastores neopentecostais percorrem comunidades antes católicas, fazendo cultos animados com música gospel amplificada e testemunhos pessoais, conquistando fiéis pela emoção e pelo senso de acolhimento comunitário que oferecem.

Quais os efeitos desse crescimento? Um aspecto positivo é que muitas igrejas neopentecostais se engajam em ações sociais em áreas carentes – distribuição de alimentos, recuperação de dependentes químicos em fazendas terapêuticas, suporte moral para famílias desestruturadas. Em locais onde o poder público é ausente, a igreja acaba servindo como uma espécie de rede de proteção e espaço de pertencimento, especialmente para jovens em vulnerabilidade. Além disso, a teologia da prosperidade, ao enfatizar trabalho, disciplina e autoestima (“você vai vencer na vida porque Deus quer te ver por cima”), por vezes ajuda indivíduos a se livrarem do fatalismo e buscarem melhoria econômica. Há muitos relatos de pessoas que, após entrar na igreja, abandonaram vícios e retomaram os estudos ou empregos, mudando de vida – o que, do ponto de vista individual, é significativo.

Por outro lado, críticos apontam impactos problemáticos. Um deles é o sectarismo: neopentecostais frequentemente adotam uma postura de que sua igreja detém a “única verdade” e veem as demais religiões como falsas ou demoníacas. Isso gera um clima de intolerância e isolamento em relação a quem não compartilha da mesma fé. Em famílias multirreligiosas, por exemplo, é comum surgirem conflitos quando um membro adere a uma igreja neopentecostal e passa a condenar práticas antes tidas como normais – como ter imagens de santos em casa ou frequentar a festa do padroeiro. No contexto amazônico, essa postura agrava o racismo religioso: líderes neopentecostais, em cultos transmitidos na TV, não raro se referem a entidades afro-brasileiras ou espíritos indígenas como “demônios” que precisam ser expulsos. Isso legitima ataques a terreiros e fomenta preconceitos, conforme discutimos anteriormente.

Outro efeito é a exploração da fé para enriquecimento de alguns líderes. Escândalos envolvendo pastores que acumulam patrimônio (carros de luxo, mansões, jatos) infelizmente também ocorreram na região. Fieis de baixa renda, acreditando estar “fazendo prova de fé”, doam dízimos altos e até bens para a igreja, na esperança de uma bênção financeira futura. Essa transferência de recursos da população para instituições religiosas privadas empobrece ainda mais comunidades já carentes, enquanto fortalece um poder econômico concentrado nas mãos de poucas cúpulas religiosas. Com dinheiro e fiéis numerosos, as neopentecostais ganham poder midiático e político, como já citado – por exemplo, o partido Republicanos, ligado à Igreja Universal, tornou-se um dos maiores do país e elegeu vários prefeitos e vereadores (inclusive no Norte) (MARIANO, 2021). Essa influência pode resultar em políticas públicas enviesadas: isenções fiscais excessivas a templos, introdução de ensino religioso confessional em escolas públicas (ferindo a laicidade), nomeação de gestores por critério religioso e não técnico, etc.

Culturalmente, o avanço neopentecostal muitas vezes significa um empobrecimento do imaginário simbólico local. Os cultos padronizados (com músicas gospel similares às do resto do país, por exemplo) e a rejeição a manifestações folclóricas levam a uma homogeneização cultural. Um jovem numa igreja dessas em Manaus provavelmente canta canções traduzidas do inglês ou compostas em São Paulo, assiste a filmes evangélicos norte-americanos, veste camiseta com versículos bíblicos e bandeiras de Israel– elementos de uma subcultura evangélica globalizada, que pode desconectá-lo das tradições amazônicas regionais. Essa desconexão preocupa educadores e antropólogos, pois a longo prazo pode ocorrer a perda de referências culturais locais entre gerações mais novas, seduzidas por uma identidade “cristã universal” em detrimento de sua herança cabocla ou indígena.

Além disso, há efeitos na saúde e na educação que merecem nota. Algumas igrejas neopentecostais pregam a cura pela fé e desestimulam os fiéis a buscar tratamento médico ou psicológico, o que já ocasionou casos de agravamento de doenças e transtornos mentais não tratados adequadamente. Outras disseminam desinformação científica (como acreditar que certas vacinas ou métodos contraceptivos “vão contra a vontade de Deus”), o que impacta políticas de saúde pública – um exemplo foi durante a pandemia de Covid-19, em que apesar da maioria das igrejas ter colaborado com medidas sanitárias, algumas correntes negacionistas influenciaram seguidores a não se vacinar ou a confiar apenas em orações. Na educação, há registro de pressão de grupos religiosos sobre currículos escolares, tentando barrar temas como educação sexual ou teoria da evolução, alinhados à ascensão de um fundamentalismo religioso na política educacional recente.

Em meio a essas questões, porém, é importante reconhecer que o neopentecostalismo é um fenômeno complexo: ele responde a anseios legítimos de parte da população (por acolhimento, milagre, identidade comunitária) e ao mesmo tempo gera desafios de convivência e de manutenção de uma sociedade plural. Para os jovens, entender esse crescimento é fundamental. Muitos têm amigos ou parentes que fazem parte de igrejas neopentecostais; o diálogo respeitoso, livre de preconceitos de ambos os lados, é o caminho para que diferenças não se tornem inimizades. Ao mesmo tempo, os jovens precisam estar atentos aos limites entre liberdade religiosa e violação de direitos: por exemplo, ninguém pode impor suas crenças na escola pública ou discriminar colegas por religião. O protagonismo juvenil na promoção da tolerância implica saber conciliar respeito à fé alheia com postura crítica quando algum discurso religioso atacar os direitos humanos ou a diversidade cultural.

Em suma, as igrejas neopentecostais no Amazonas são hoje atores sociais de peso, trazendo efeitos variados – solidariedade e conflito, inclusão e sectarismo, ajuda e exploração. O desafio coletivo é potencializar os aspectos positivos (comunhão, ajuda mútua, ética solidária) e coibir os negativos (intolerância, charlatanismo, manipulação política), buscando um equilíbrio em que essa corrente religiosa conviva pacificamente com as demais e contribua para o bem comum sem suprimir a riqueza cultural regional.

Colonialidade da Fé, Racismo Religioso e Apagamento de Tradições Ancestrais

Para entender as raízes profundas da intolerância religiosa e do desequilíbrio de poder entre as religiões no Amazonas (e no Brasil), é preciso recorrer ao conceito de colonialidade da fé. Esse termo refere-se à permanência, na era pós-colonial, de estruturas de pensamento e práticas herdadas do colonialismo europeu que hierarquizam as religiões – colocando as crenças europeias cristãs como superiores, “civilizadas” e universais, enquanto as crenças indígenas, africanas ou orientais são vistas como inferiores, “primitivas”, supersticiosas ou demoníacas (SILVA, 2025). Em outras palavras, mesmo após a colonização formal ter terminado, mantemos uma mentalidade colonizadora no campo religioso, que resulta em racismo religioso e apagamento de saberes tradicionais.

No contexto amazônico, a colonização ibérica impôs o catolicismo romano como religião oficial, ao passo que demonizou as práticas espirituais dos povos indígenas e posteriormente dos africanos escravizados. Missionários e colonos portugueses qualificavam de “feitiçaria” ou “idolatria” tudo que escapava à doutrina católica. Isso legitimou, por exemplo, a destruição de objetos sagrados indígenas, a proibição de rituais de pajés e a perseguição violenta de líderes espirituais nativos. Similarmente, escravos africanos trazidos à Amazônia eram proibidos de cultuar seus orixás e obrigados a se batizar; muitos, para sobreviver, praticavam sua fé em segredo ou a sincretizavam com santos católicos. Esse processo de apagamento religioso foi parte da estratégia colonial de dominação – eliminando a alma dos povos dominados, minava-se sua resistência cultural (ALVES, 2024). Como lembra Marcos Alves, “a religião não é meramente uma crença, ela constitui parte da cultura de uma região e de uma pessoa”; portanto, ao suprimir a religião originária, os colonizadores atingiam a identidade inteira do povo, inclusive linguagem e costumes (SEJUSC, 2025).

Essa herança repercute hoje de modos diversos. A demonização das religiões afro-brasileiras é um dos mais evidentes. Igrejas cristãs (sejam católicas históricas ou, mais agressivamente, neopentecostais atuais) perpetuam a ideia colonial de que os cultos de origem africana seriam voltados ao “mal”. O resultado é que terreiros enfrentam obstáculos e violência: de burocracias estatais (leis e fiscalizações que dificultam seu funcionamento, algo raramente aplicado com o mesmo rigor a templos cristãos) até ataques diretos de fanáticos. Muitas vezes, crimes contra terreiros – invasões, depredações – são tratados pelas autoridades apenas como “vandalismo” ou “briga de vizinhos”, ignorando o racismo estrutural subjacente. Essa conivência institucional evidencia a colonialidade da fé em ação: o Estado, que deveria ser laico e proteger igualmente todas as crenças, acaba reproduzindo hierarquias coloniais que privilegiam a religião hegemônica (cristã) e marginalizam as demais (SILVA, 2025).

Outro aspecto é o apagamento de práticas indígenas ainda hoje. Em algumas comunidades indígenas evangelizadas, missionários orientam os convertidos a queimar objetos ritualísticos tradicionais, abandonar pajelanças e desacreditar suas antigas divindades. Há relatos de aldeias no Amazonas onde certas línguas nativas quase deixaram de ser faladas porque os pregadores associavam a língua indígena aos “tempos da feitiçaria”, estimulando o uso apenas do português “cristão”. Essa é a colonização da mente prosseguindo: nega-se validade ao conhecimento ancestral, substituindo-o por uma cosmologia importada. Como resultado, jovens indígenas podem sentir vergonha de sua herança espiritual e desconectar-se de seus anciãos. Trata-se de um etnocídio cultural, um genocídio da cultura, que caminha de mãos dadas com a evangelização radical. Nos últimos anos, felizmente, muitas nações indígenas do Amazonas têm se mobilizado para resgatar seus rituais e valorizar a espiritualidade própria, resistindo a essa pressão colonizadora. Mas o embate é desigual quando há poder econômico e político por trás das missões religiosas.

A colonialidade da fé também se manifesta no racismo contra os negros e suas práticas. Termos racistas e pejorativos historicamente associados a povos africanos (“macumba”, “bruxaria”, “coisa do demônio”) ainda são usados para descrever cultos afro. Essa retórica desumaniza os praticantes e serve para justificar violências – afinal, se alguém acredita sinceramente que um terreiro cultua o mal, ele pode se sentir moralmente justificado a “expulsar o demônio” dali, mesmo que seja com destruição e agressão. É o que Eliane Pereira da Silva aponta: “a demonização das religiões afro-brasileiras não é apenas um ataque à fé, mas um ataque à existência e à identidade negra” (PEREIRA, 2025). Ou seja, perseguir o candomblé não é só discordar teologicamente dele; é negar espaço à população negra se afirmar culturalmente, é tentar apagar um sistema de saberes ancestrais que resiste ao apagamento colonial. Nesse sentido, combater o racismo religioso implica desmantelar a lógica colonial que hierarquiza crenças, corpos e culturas (PEREIRA, 2025).

Vale ressaltar que a colonialidade da fé afeta a todos, não apenas as minorias. Quando uma sociedade admite apenas uma visão religiosa dominante como válida, ela tolhe a liberdade de pensamento de todos os indivíduos, inclusive dos membros da religião dominante. A pluralidade, ao contrário, nos liberta para escolher e até para não ter religião. Por isso, a luta contra a colonialidade da fé e o racismo religioso é de interesse geral: significa buscar um ambiente onde nenhuma autoridade religiosa possa suprimir a diversidade que nos constitui como nação.

Felizmente, há resistência e esperança. No Amazonas, vemos grupos assumindo a decolonização da fé – movimentos inter-religiosos, quilombolas e indígenas reafirmando suas espiritualidades. Por exemplo, lideranças afro-amazonenses como Mãe Betânia de Oxalá e Babá Jean Marius adotam a pedagogia de Paulo Freire para conscientizar e empoderar jovens das comunidades de terreiro, ensinando-os a se orgulharem de sua herança e a dialogar com a sociedade de igual para igual. Iniciativas como cartilhas de combate à intolerância religiosa e ao racismo (lançadas por coletivos locais) defendem não apenas a liberdade religiosa, mas também causas ecológicas e direitos humanos dos povos da Amazônia, numa visão integrada de luta contra todas as formas de opressão (LEVY, 2022) – um verdadeiro trabalho de descolonização, onde se recupera o respeito pelos “saberes ancestrais” apagados.

Em conclusão, enfrentar a colonialidade da fé requer reconhecer esse legado histórico no presente e agir para revertê-lo. Isso significa valorizar as religiões indígenas e afro-brasileiras como patrimônios imateriais, apoiando sua prática livre e sua difusão nas escolas e na mídia; significa punir efetivamente crimes de racismo religioso (não os tratando como “casos isolados”); e significa promover uma cultura onde “o sagrado do outro” seja respeitado. É uma tarefa de gerações, mas fundamental para que a Amazônia – berço de civilizações ancestrais e encontro de culturas – seja um espaço onde todas as fés possam florescer sem correntes coloniais.

Educação, Tolerância Religiosa e Direitos Humanos: O Papel da Escola e da BNCC

Diante de todos os desafios expostos – intolerância, disputas de poder, racismo religioso –, a educação surge como principal aliada na promoção da tolerância e do respeito à diversidade religiosa. É na escola, junto às novas gerações, que podemos construir uma mentalidade diferente, capaz de conviver com a pluralidade de crenças de forma pacífica e enriquecedora. No Amazonas, esse papel educativo ganha contornos especiais, considerando a riqueza cultural local e as diretrizes nacionais que incentivam o respeito à diversidade no ambiente escolar.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em vigor no Brasil, inclui o Ensino Religioso como componente curricular (de matrícula facultativa, seguindo a legislação). Importante destacar: esse Ensino Religioso, conforme orientações da BNCC, não deve ser catequético ou confessional (não prega uma fé específica), mas sim promover o conhecimento sobre a diversidade religiosa de forma laica e plural. A BNCC enfatiza a valorização do multiculturalismo e da diversidade religiosa, priorizando que os estudantes desenvolvam reconhecimento de identidades e respeito às diferenças (BNCC, 2018). Em outras palavras, a escola deve ensinar o aluno a apreciar a riqueza das várias tradições espirituais e a pensar criticamente sobre intolerância e fundamentalismo. Espera-se, segundo o documento, que ao aprender sobre diferentes religiões (bem como sobre filosofias de vida não religiosas), o jovem exercite a empatia, o diálogo e a defesa da liberdade de crença. Esses objetivos estão alinhados com a formação para a cidadania e os direitos humanos.

No contexto do Amazonas, essa orientação significa incluir nos conteúdos escolares a história e cultura das religiões amazônidas. Por exemplo, aulas de história podem abordar as Missões religiosas na colonização, mas também o patrimônio das religiões indígenas e afro-brasileiras. Aulas de artes e literatura podem explorar as expressões artísticas de fundo religioso (lendas, danças, músicas do boi-bumbá com referência espiritual, grafismos indígenas ligados a mitos, etc.). O ensino religioso, como área específica, pode convidar líderes de diferentes crenças locais para falar aos alunos – um padre, um pastor, um babalorixá, um pajé, um espírita –, mostrando na prática a pluralidade e fomentando o diálogo inter-religioso. Algumas escolas em Manaus já promovem feiras culturais sobre “religiosidade e cultura”, em que os próprios estudantes pesquisam e apresentam elementos das várias fés presentes na comunidade escolar (desde o catolicismo popular até a umbanda, passando pelo evangelicalismo, espiritismo, etc.), sempre enfatizando o respeito mútuo. Essas atividades permitem que alunos de diferentes origens religiosas se sintam valorizados e ouvidos, ao mesmo tempo em que aprendem a derrubar estereótipos sobre a religião do colega.

A educação para a tolerância religiosa também envolve trabalhar atitudes e valores no dia a dia escolar. Professores e gestores precisam estar atentos para combater qualquer sinal de bullying religioso – piadas com a religião do outro, xingamentos como “macumbeiro” usados de forma pejorativa, exclusão de colegas por não compartilharem da mesma fé. A escola deve ser território laico e acolhedor de todos. Isso implica medidas simples, como adequar calendários de provas para não prejudicar alunos que guardam certos dias religiosos (por exemplo, sabatistas), ou criar espaços de mediação de conflitos caso surjam desentendimentos por motivo de crença. Além disso, incluir as famílias nesse processo é importante: reuniões de pais podem abordar o tema da diversidade religiosa, conscientizando que a formação ética dos filhos deve incluir o respeito às diferentes crenças como um valor fundamental.

Os direitos humanos entram nessa equação como base ética. O direito à liberdade religiosa está consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Pacto de San José da Costa Rica (do qual o Brasil é signatário), bem como na Constituição Federal. Ensinar isso aos jovens – que todos têm direito de praticar sua religião ou de não ter religião, sem sofrer coerção – os empodera a defender esses princípios na sociedade. Projetos pedagógicos em várias escolas do Amazonas têm articulado o ensino de direitos humanos com temas regionais, como “Diversidade religiosa e direitos humanos na Amazônia”, trazendo à tona discussões sobre casos reais (como os que citamos: a agressão à cantora de boi, a intolerância contra terreiros) e pedindo que os estudantes pensem em soluções e campanhas de conscientização. Essa aprendizagem ativa transforma os alunos em multiplicadores do respeito: muitos passam a atuar em grêmios, clubes juvenis ou mídias sociais propagando mensagens de tolerância religiosa e combatendo fake news e discursos de ódio relacionados à fé.

Outro ponto importante é formar o estudante para diferenciar religiosidade de proselitismo. Ou seja, valorizar a religiosidade como parte da cultura não significa permitir doutrinação religiosa em espaços públicos. A BNCC e as leis educacionais frisam que o Estado é laico e a escola pública não pode promover uma religião específica (BRASIL, LDB 9.394/96, art. 33). Por isso, o equilíbrio é sutil: ensinar sobre religião, sim; ensinar religião, não. Os professores precisam de formação contínua para conduzir esse ensino de modo imparcial e informativo, fomentando no aluno a reflexão crítica. Por exemplo, ao estudar as várias crenças, pode-se também discutir temas como fanatismo, ciência versus religião, e a própria história das intolerâncias e perseguições religiosas, para que os jovens compreendam os perigos do extremismo. Essa abordagem formará cidadãos capazes de reconhecer discursos de ódio travestidos de religião e rejeitá-los.

É animador observar que muitos jovens amazonenses já têm se posicionado em defesa da diversidade religiosa. Em 21 de janeiro de cada ano, vemos participações juvenis em atos pelo Dia de Combate à Intolerância Religiosa, com estudantes levando cartazes pregando respeito e relatando experiências de integração religiosa. Nas redes sociais, páginas e perfis de jovens da região difundem informações sobre culturas indígenas e afro, desmistificando preconceitos (por exemplo, explicando que “umbanda não é culto ao demônio, é uma religião brasileira que prega a caridade”, ou que “ser evangélico não significa odiar outras religiões”). Esse protagonismo digital é poderoso para alcançar outros jovens, criando uma corrente positiva contra o ódio.

Em conclusão desta seção, a educação – formal e informal – é a chave para consolidar a tolerância religiosa no Amazonas. Em sala de aula, nos projetos escolares e na vivência escolar diária, é possível semear valores de respeito, curiosidade saudável pelo diferente e solidariedade. Isso vai ao encontro do ideal da BNCC de formar cidadãos críticos, empáticos e conscientes da diversidade (BNCC, 2018). A escola, portanto, tem a missão não só de transmitir conhecimentos sobre as religiões, mas principalmente de formar uma cultura de paz onde a fé de cada um seja motivo de diálogo, nunca de discriminação. Cabe a nós, educadores, estudantes, famílias e comunidade, construir juntos esse ambiente de respeito – e os jovens, com sua energia e mente aberta, têm um papel protagonista nessa transformação.

Conclusão: Respeito, Juventude e Protagonismo na Diversidade

“Diversidade religiosa” não é um mero termo – é a realidade viva do Amazonas e do Brasil. Aprender a conviver com essa diversidade com respeito e tolerância é um dos desafios centrais da nossa sociedade no século XXI. Ao longo deste texto, vimos que o Amazonas abriga uma riquíssima tapeçaria de manifestações de fé, cada qual contribuindo para a identidade cultural da região. No entanto, também constatamos que essa pluralidade convive com tensões e intolerâncias que precisam ser superadas, desde agressões motivadas por fanatismo até a persistência de preconceitos enraizados no passado colonial.

A mensagem final que fica é a necessidade de empatia e ação. Para os estudantes do ensino médio – jovens que estão se formando como cidadãos conscientes – o chamado é claro: sejam protagonistas na promoção do respeito religioso. Isso significa, no dia a dia, pequenos gestos como defender um colega alvo de chacota por sua religião, ou buscar conhecer antes de julgar. Significa também engajamento maior, como participar de projetos comunitários de diálogo inter-religioso, criar grupos de discussão sobre diversidade cultural na escola, ou mesmo utilizar as redes sociais para difundir informação correta sobre as religiões e denunciar notícias falsas e discursos de ódio. A juventude tem historicamente sido portadora de mudança, e no combate à intolerância não é diferente – os jovens podem questionar visões ultrapassadas, influenciar suas famílias e renovar a esperança de um convívio harmonioso.

É fundamental compreender que tolerar não é apenas “suportar” o outro, mas respeitar ativamente. É reconhecer a dignidade intrínseca de cada tradição religiosa e de seus seguidores. O respeito não elimina debate – pessoas de crenças diferentes podem sim dialogar sobre suas divergências –, mas esse debate deve ocorrer com base na ética do respeito e dos direitos humanos, nunca com violência ou imposição. E igualmente, a tolerância não significa abrir mão de convicções pessoais, mas entender que no espaço público todas as convicções têm igual direito de existir. Como bem colocou Martin Luther King Jr., “não me preocupa o grito dos violentos, mas sim o silêncio dos bons” – ou seja, não podemos silenciar frente à intolerância. Cada um de nós, inclusive os jovens, deve se posicionar quando vir injustiças contra qualquer grupo religioso, pois quando uma religião é oprimida, todas as outras perdem um pedaço de sua liberdade.

No Amazonas, terra de encontros, essa mensagem de convivência ganha um simbolismo ainda maior. A floresta ensina que a diversidade é força – várias espécies vivendo em equilíbrio criam o ecossistema mais rico do planeta. Analogamente, diversas culturas e fés vivendo em respeito constroem uma sociedade mais rica, justa e criativa. Os desafios existem, seja o proselitismo agressivo, o racismo religioso ou a colonialidade persistente. Mas a história não está dada: ela está sendo escrita por nós. Educação, diálogo e empatia são as ferramentas para escrever um novo capítulo em que tolerância religiosa seja a norma, e não a exceção.

Que este texto inspire reflexões e, principalmente, atitudes. No Blog do Lab de Educador, acreditamos no poder transformador da educação e no protagonismo juvenil. A diversidade religiosa no Amazonas é um convite para aprender com o outro, celebrar nossa pluralidade e unir forças contra qualquer forma de ódio. Cada jovem que se levanta em defesa do respeito acende uma luz contra a intolerância. E pouco a pouco, essas luzes juntas podem iluminar toda a nossa comunidade com os valores da paz, do amor ao próximo e da unidade na diversidade.

Referências:

ALVES, José Diego Gobbo et al. (2024). Territorialidades das igrejas evangélicas nas comunidades tradicionais da Amazônia Central. Confins – Revista franco-brasiliera de geografia, n. 63. Disponível em: journals.openedition.orgjournals.openedition.org.

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BRASIL. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Art. 5º, VI – liberdade de consciência e de crença.

BRASIL. (1996). Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96). Art. 33 – Ensino Religioso nas escolas públicas de matrícula facultativa, de caráter não confessional.

CENSO 2022 – IBGE. (2025). Dados preliminares de religião. Agência IBGE Notícias, 06 jun. 2025. (Marília Loschi). Disponível em: agenciadenoticias.ibge.gov.bragenciadenoticias.ibge.gov.br.

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ROCHA, Leonel. (2008). A guerra pelas almas (Reportagem). Correio Braziliense (reproduzido em Povos Indígenas no Brasil, ISA). Disponível em: pib.socioambiental.orgpib.socioambiental.org.

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