Artigo escrito em parceria com Prof. Fábio Luiz Seribeli.
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Por que começar com a Química no cotidiano?
Como primeiro artigo deste importante blog, Lab de Educador, decidimos, talvez influenciados pelos materiais didáticos, especialmente os livros de Química, que, independentemente do nível de ensino – médio ou superior –, quase sempre começam com uma breve apresentação sobre a relevância da Química para a sociedade. Poderíamos ter iniciado nossa abordagem de várias formas, mas uma das grandes belezas que a tecnologia nos proporciona é a possibilidade de quebrar as barreiras do tempo, resgatando um artigo de opinião de 2014 que causou bastante polêmica. O texto, intitulado “Química, pra que te quero?”, escrito por Denise Fraga para a Folha de São Paulo, levantou discussões intensas, principalmente entre profissionais da educação química. O artigo gerou tantas reações que até a Sociedade Brasileira de Química (SBQ) se manifestou, respondendo à coluna da escritora.
Um convite à reflexão contínua
Antes de apresentarmos nossas considerações, vale destacar que organizamos, na sequência deste texto, uma série que pode ser considerada um guia sobre como "Conhecer a Química", estabelecendo uma conexão entre ciência e sociedade em um mundo globalizado. Então, fique ligado no blog para acompanhar e interagir com a gente!
O impacto das experiências pessoais com a Química
O famoso texto de 2014 começa com a escritora questionando o real valor do estudo da Química nas escolas, a partir de suas próprias experiências negativas com a disciplina e, posteriormente, com o desempenho de seus filhos. Ela escreve: “Meu filho vai mal em Química. Meu outro filho também vai mal em Química. Eu fui mal em Química.” Esse relato, embora pessoal, reflete uma realidade comum para muitos estudantes e pais. Um ponto importante a ser considerado é que existem várias pesquisas que mostram a influência da família nas escolhas profissionais dos filhos. Não estamos dizendo que os filhos de Denise Fraga estavam em um processo de escolha de carreira, mas, considerando a formação dela como atriz e escritora, é provável que o ambiente familiar tenha incentivado uma predileção por áreas de humanidades e linguagens. Curiosamente, já em 2021, soubemos que um dos filhos cursava Administração e o outro, Cinema.
Mas afinal, por que ainda ensinamos Química?
O que realmente nos interessa, porém, é responder à pergunta sobre por que a Química ainda é ensinada nas escolas. Como professores da disciplina, acreditamos que ela é essencial para a compreensão do mundo ao nosso redor e das transformações que ocorrem constantemente em nosso cotidiano. A Química é onipresente – está na alimentação, nos produtos de higiene, nas tecnologias que usamos e até nas interações ambientais. Através do estudo da Química, os alunos desenvolvem habilidades cruciais para entender como as substâncias interagem e como essas reações podem ser aplicadas de forma positiva e sustentável, contribuindo para avanços nas áreas de saúde, energia, indústria e meio ambiente. Assim, a Química não é apenas uma matéria escolar, mas um conhecimento fundamental para a formação de cidadãos capazes de lidar com os desafios da sociedade moderna.
Muito além da composição: a Química nos fenômenos
É interessante notar que, no segundo parágrafo, Denise Fraga reconhece a Química como uma "linda ciência", mas sugere que o tempo dedicado a ela nas escolas poderia ser reduzido, talvez para um ano, com foco apenas no entendimento da composição das coisas. Aqui, gostaríamos de destacar que uma das maravilhas da Química está justamente na interpretação de fenômenos – muitos dos quais estão presentes em nosso cotidiano. Não é possível explicar a ação de um detergente sobre uma mancha de gordura, as cores vibrantes dos fogos de artifício, o “desaparecimento” dos cristais de açúcar em água ou até mesmo o fato de sentir o cheiro de um perfume a metros de distância apenas compreendendo a composição das substâncias envolvidas.
A importância de enxergar além do visível
A compreensão da Química em um nível básico envolve a inter-relação entre aspectos macroscópicos, simbólicos e submicroscópicos. Por exemplo, algo que parece mágico – como as partículas de um composto sólido branco desaparecerem ao serem adicionadas a um líquido transparente – pode ser descrito de forma mais profunda, como o comportamento da sacarose em solução aquosa: C₁₂H₂₂O₁₁ (s) → C₁₂H₂₂O₁₁ (aq), explicando como átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio se ligam e interagem com moléculas de água. Esse é um exemplo do nível submicroscópico, uma das facetas do conhecimento químico.
A Química como ferramenta crítica e transformadora
Para sermos breves – afinal, a ideia não é escrever um capítulo de livro –, nossa proposta é levantar reflexões sobre a importância da Química, que abordaremos com mais profundidade no guia que vem a seguir. Contudo, acreditamos que o ensino de Química deve ir além de um enfoque puramente técnico, de "Química Aplicada". É necessário também mostrar a importância do que foi aprendido para a sociedade e como isso pode promover uma visão mais crítica e reflexiva sobre os fenômenos ao nosso redor.
O desafio da valorização da Química no ambiente escolar
Reconhecemos que não é tarefa fácil para os educadores, frequentemente focados na Química Aplicada, uma área já repleta de desafios como dificuldades de aprendizagem, falta de recursos e estrutura, entre outros problemas. No entanto, imaginar que o xadrez, por exemplo, poderia desenvolver as mesmas ou até mais habilidades que a disciplina de Química é ignorar o impacto que a Química tem em nossas vidas – desde anestésicos e controle de natalidade até baterias, fertilizantes, água potável e combustíveis.
Para refletir e dialogar: o futuro da Química na escola
No fim das contas, com a nova BNCC, o artigo de Denise Fraga antecipou o que vemos hoje: grades curriculares cada vez mais esvaziadas de disciplinas de Ciências da Natureza, dando lugar a matérias como projetos de vida, empreendedorismo e até xadrez. Lembramos a todos que, como em qualquer texto de blog, a ideia é abrir espaço para a interação, por isso, convidamos vocês a compartilhar suas opiniões sobre o tema. E não se esqueçam de que em breve publicaremos o Guia, aprofundando a discussão sobre a importância da Química, e como abordá-la em sala de aula, incluindo atividades e textos de apoio. Até a próxima!
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AUTORES:
Prof. Fábio Luiz Seribeli é graduado em Licenciatura em Química (UNESP, 2010), Mestre em Química (UNESP, 2013) e Doutor em Ciências (IQ-USP, 2022). Atualmente trabalha com Pesquisa em Ensino de Ciências (Ensino de Química). Atua como Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFSP - Campus Presidente Prudente. Contato: fblseribeli@gmail.com. Instagram: @manifestacao_quimica Lattes: http://lattes.cnpq.br/7195913235657719
Profa. Karla Nunes da Silva é graduada em Licenciatura em Química (IFAM, 2006) e Bacharelado em Química (UFAM, 2010), Mestre em Biotecnologia e Recursos Naturais da Amazônia (UEA, 2010), Mestre em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia (UEA, 2011), Especialização em Educação a Distância (SENAC-MT, 2010), Especialização em Bioinformática (UFMG, 2009), Especialização em Informática na Educação (UEA, 2008), Aperfeiçoamento em Bioquímica e Biologia Molecular Avançadas (IQ/USP, 2009). Atua como professora de Química no UNINORTE MANAUS (2009-atual) nos cursos de Engenharias, Saúde e Licenciaturas. Consultora técnica na @educatech.projetos (2020-atual) em Metodologias Ativas, Inteligência Artificial no Ensino e Tecnologias Educacionais. Contato: quimica.projetos@gmail.com. Instagram: @karlanunez.quimica Lattes: http://lattes.cnpq.br/6446439874673223