O Caso Caxias: O que podemos aprender com o ataque coordenado à professora?

Escrevo hoje profundamente impactado pelos recentes episódios de violência escolar que escancaram desafios urgentes da educação contemporânea.

O recente episódio ocorrido em Caxias do Sul, no qual três adolescentes planejaram e executaram um ataque contra uma professora, é um retrato doloroso de uma realidade que se repete com frequência alarmante em nossas escolas. Segundo as reportagens divulgadas nas mídias tradicionais, um dos alunos, já sob custódia, afirmou ter atacado a professora por estar "estressado" após ser chamado de "sem futuro" por ela.

No entanto, é fundamental ressaltar que essa é apenas a versão do adolescente que, já orientado juridicamente, tenta justificar sua ação responsabilizando a professora, que ainda está em recuperação e, portanto, impossibilitada de se manifestar. Não podemos, de forma alguma, acusá-la sem antes ouvir sua versão dos fatos. O respeito ao devido processo e ao direito de defesa é um princípio ético fundamental que deve nortear qualquer análise.

Além disso, a reportagem evidencia que a escola já enfrentava problemas recorrentes de indisciplina entre os alunos envolvidos. Professores e direção relataram episódios anteriores que indicam um ambiente escolar desafiador, no qual a convivência e o respeito às regras estavam fragilizados. Por outro lado, familiares dos adolescentes afirmaram que eles se comportavam em casa, mas passavam longos períodos trancados no quarto, sempre conectados ao celular e impedindo os pais de acessarem suas mensagens. Esse comportamento levanta uma questão crucial: qual é o papel das tecnologias digitais — especialmente o uso de celulares — na vida de crianças e adolescentes? Até que ponto o acesso irrestrito a esses dispositivos, sem acompanhamento e diálogo da escola e da família, pode contribuir para o isolamento, exposição a conteúdos inadequados e até mesmo organização de atos violentos?

O fato é que nenhuma agressão — institucional, verbal ou física — jamais justificará, embora possa explicar em parte, um ato de violência dessa magnitude, mas o episódio acende um alerta pedagógico: precisamos urgentemente repensar nossas práticas e relações escolares.

Os dados são contundentes: de 2013 a 2023, os casos de violência escolar aumentaram 254% no Brasil, saltando de 3,7 mil para 13,1 mil registros, segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Entre as vítimas, estão não apenas estudantes, mas também professores e toda a comunidade escolar. Esses números revelam a vulnerabilidade emocional no ambiente escolar e reforçam a urgência em promover um ambiente mais acolhedor e seguro.

Diante desse cenário, a cultura de paz e a comunicação não violenta (CNV) tornam-se mecanismos imprescindíveis para transformar a escola em um espaço de respeito, escuta e inclusão. A CNV, baseada na empatia e no diálogo, não apenas previne o bullying e agressões, mas também fortalece vínculos, reduz traumas emocionais e promove um ambiente mais saudável e feliz para todos. Quando educadores assumem uma postura mais humana, buscando compreender a realidade de cada aluno e atuando como motivadores do sucesso, criam-se oportunidades para que todos se sintam respeitados e valorizados, independentemente de suas dificuldades momentâneas.

O papel do professor, nesse contexto, é fundamental. Cabe a nós entender que cada estudante tem seu tempo de aprendizagem e amadurecimento. Cabe a nós, ao longo de nossas atividades diárias, não podemos julgar nossos alunos precipitadamente por suas atitudes, nem por atrasos em atividades ou comportamentos violentos — e aqui não estou falando dos alunos envolvidos no caso de Caxias, que precisam responder por suas atitudes repugnantes. Nosso compromisso é enxergar além do comportamento, identificar as causas e atuar como agentes de transformação, promovendo experiências educativas que favoreçam a convivência construtiva e o desenvolvimento ético.

A pergunta que fica é: como podemos aprender com esse episódio? O ataque ocorrido em Caxias do Sul nos ensina que a violência não surge do nada. Ela sempre é uma resposta a algo. No caso específico, por tudo o que foi divulgado, creio que não pode ser visto como uma simples resposta a uma fala da professora, mas sim como resultado de relações fragilizadas, discursos desumanizadores, ausência de diálogo e escuta, e possivelmente falta de acompanhamento emocional e digital, tanto da família quanto da escola e da sociedade atual, cada vez mais digitalizada.

Nesse sentido, é essencial investir em formação continuada para educadores, com programas efetivos já implementados em outros países e estados brasileiros, que mostram redução significativa na violência escolar, além de apresentar evidências concretas sobre a melhoria nas relações interpessoais e no clima organizacional das instituições educacionais, criar espaços de diálogo e reflexão, valorizar a escuta ativa e desenvolver projetos de protagonismo juvenil que promovam a cultura de paz de maneira transversal e permanente no currículo escolar.

A professora atacada sobreviveu, está recebendo tratamento médico e encontra-se afastada de suas funções. Que sua recuperação inspire toda a comunidade escolar a repensar práticas, fortalecer vínculos e construir juntos uma escola onde a paz, o respeito e a empatia sejam as maiores lições.


Referências:

CORREIO BRAZILIENSE. Grupo 'Matadores' no Instagram: a história por trás de ataque de adolescentes a faca contra professora. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2025/04/7112039-grupo-matadores-no-instagram-a-historia-por-tras-de-ataque-de-adolescentes-a-faca-contra-professora.html. Acesso em: 16 abr. 2025.

LAB DE EDUCADOR. Violência escolar aumenta 254% em 10 anos no Brasil. Disponível em: https://blog.labdeeducador.com.br/2025/04/violencia-escolar-aumenta-254-em.html. Acesso em: 16 abr. 2025.

REVISTA PESQUISA FAPESP. Violência escolar aumenta nos últimos 10 anos no Brasil. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/violencia-escolar-aumenta-nos-ultimos-10-anos-no-brasil/. Acesso em: 16 abr. 2025.

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