Resumo para Concurso: A Declaração de Salamanca

A Declaração de Salamanca é um dos documentos mais fundamentais e cobrados em concursos públicos para professores e pedagogos no Brasil. Elaborada em 1994, na cidade de Salamanca, Espanha, durante a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, este documento revolucionou a concepção de educação inclusiva mundialmente e tornou-se referência obrigatória para políticas educacionais.

Para você que está se preparando para concursos públicos na área da educação, dominar os princípios, direitos e deveres estabelecidos pela Declaração de Salamanca, documento clássico que foi adotado pela UNESCO e pelos países signatários é absolutamente essencial. Este documento aparece frequentemente em provas de diversas bancas, desde questões conceituais até aplicações práticas da educação inclusiva como princípio estruturante da escola contemporânea.

Mas vale ressaltar que a importância deste conhecimento para a Educação vai além da aprovação no concurso: como futuro educador, você precisará implementar esses princípios em sua prática pedagógica diária, garantindo uma educação verdadeiramente inclusiva e de qualidade para todos os estudantes.

1. Contexto histórico e conceituação

A Declaração de Salamanca foi aprovada em 10 de junho de 1994, durante a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade. O evento reuniu representantes de 92 países e 25 organizações internacionais, organizados pelo Governo da Espanha em cooperação com a UNESCO, portanto, este documento é uma das referências internacionais mais contundentes no sentido de articular a educação de crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais (NEE) no âmbito do sistema regular de ensino, ou seja: a escola comum. 

O objetivo principal do documento é estabelecer as diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social. Seu foco principal é garantir que todas as crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais tenham acesso ao sistema regular de educação.

Vale destacar que a Declaração de Salamanca:

  • Reafirma o direito à educação para todos os indivíduos, “independentemente das diferenças individuais”. 
  • Reconhece que cada criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias. 
  • Estabelece que os sistemas educacionais e os programas devem estar desenhados de modo a acomodar essa diversidade — ou seja, a escola se adapta ao aluno, não o inverso. 
  • Afirma que as escolas regulares, quando orientadas para a inclusão, são as mais eficazes para combater atitudes discriminatórias, criar comunidades acolhedoras e alcançar a meta de “educação para todos”.

Sob o prisma da BNCC (Bases Nacionais Comuns Curriculares) e da formação de professores (BNC-Formação de Professores), esse documento oferece suporte para pensar a escola como ambiente inclusivo, mediado por tecnologias digitais, e voltado ao desenvolvimento de competências e habilidades do século XXI.


Conceitos Fundamentais

1. Necessidades Educativas Especiais

Define-se na Estrutura de Ação em Educação Especial da Declaração de Salamanca,  que escolas deveriam acomodar todas as crianças e jovens independente das suas necessidades e condições que se relacionam seja com deficiências ou dificuldades escolares, incluindo, exemplo:

  • Crianças com deficiência física, mental, sensorial ou múltipla
  • Crianças sobredotadas/com altas habilidades
  • Crianças de rua ou que trabalham
  • Crianças de populações remotas ou nômades
  • Crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais
  • Crianças de áreas desfavorecidas ou marginalizadas

2. Escola Inclusiva

É aquela que "se deve ajustar a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras". O princípio orientador é que as escolas devem se adaptar aos alunos, e não o contrário.

Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos” (UNESCO, 1994)

A escola inclusiva é, portanto, aquela que acolhe todas as crianças - independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras -, e reorganiza suas práticas pedagógicas, curriculares e estruturais para garantir a aprendizagem significativa de cada uma.

Ela não apenas “aceita” a diferença, mas a considera parte da riqueza do processo educativo. Assim, a diferença não é um problema, e sim um elemento constitutivo da educação democrática e humanizadora.

3. Pedagogia Centrada na Criança

Abordagem educacional que adapta a aprendizagem às necessidades da criança, respeitando seus ritmos, estilos e características individuais, ao invés de forçá-la a se adaptar a métodos predeterminados.

O desafio que confronta a escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de bem-sucedidamente educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam desvantagens severa.” (UNESCO, 1994)

Ou seja, a pedagogia centrada na criança é uma abordagem que:

  • reconhece a criança como sujeito ativo da própria aprendizagem;
  • valoriza suas experiências, interesses, ritmos e modos de aprender;
  • desloca o foco do ensino (transmissão de conteúdo) para a aprendizagem significativa e contextualizada.

Na prática, é uma pedagogia que pergunta: O que e como esta criança pode aprender?” — e não “como encaixá-la no ensino que já existe?”.


2. Trechos importantes

Embora a Declaração de Salamanca não esteja organizada em “artigos” como uma lei nacional brasileira, podemos destacar trechos essenciais que funcionam como “direitos e deveres” para professores, pedagogos e a escola que acolhe crianças/adolescentes com necessidades educativas especiais.


Direito fundamental à educação e oportunidade de aprendizagem

“Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter um nível adequado de aprendizagem.” (UNESCO, 1994)
Implicações:
  • Para o professor/pedagogo: reconhecer que todo aluno, sem discriminação, deve ter acesso à aprendizagem e progresso.
  • Para a escola: estruturar condições (metodologias, recursos, acessibilidade) que permitam esse progresso.
  • Alinhado ao direito e à obrigação: não basta matricular, é preciso garantir aprendizagem.

Reconhecimento da diversidade de características de aprendizagem

“Toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas.” (UNESCO, 1994)
Implicações:
  • O profissional da educação deve identificar e valorizar essas singularidades.
  • A escola deve adotar pedagogia centrada na criança e na aprendizagem, favorecendo personalização, adaptabilidade, uso de TICs e metodologias ativas.
  • Nesse sentido, há dever profissional de planejar com base na diversidade.

Inclusão na escola regular e adaptação do sistema

“Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades.” (UNESCO, 1994)
Implicações:
  • Escola regular: o modelo privilegiado para inclusão, salvo exceções devidamente justificadas.
  • A adaptação é dever do sistema/ da escola, não da criança ou família: ajustes curriculares, materiais, colaboração interdisciplinar.
  • O professor/pedagogo assume papel de mediador, articulador desse processo de adaptação.

Escolas inclusivas como meio de combater discriminação

“Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos...”  (UNESCO, 1994)
Implicações:
  • O profissional da educação tem responsabilidade ética e social de promover atitudes e culturas inclusivas no ambiente escolar.
  • Deve haver colaboração entre equipe, famílias, comunidade e organizações de pessoas com deficiência. 
  • Avaliação, monitoramento e participação são deveres instituídos: “mecanismos de planeamento, supervisão e avaliação” devem ter caráter descentralizado e participativo. 

Prioridade política e financeira da inclusão

“Atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças, independentemente de suas diferenças ou dificuldades individuais.” (UNESCO, 1994)
Implicações:
  • Para o concursando: compreender que a inclusão não é “acolher e basta”, mas demanda planejamento, recursos e políticas.
  • Na prática escolar: buscar e mobilizar recursos, atender a legislação, formar parcerias - papel que o pedagogo pode assumir.

Direitos e Deveres

Direitos

  • O direito de todo aluno à matrícula na escola regular e ao acesso à aprendizagem.
  • O direito do profissional da educação à formação, ao apoio e aos recursos necessários para atuar na inclusão (implícito no documento).
  • O direito da família e dos estudantes de participar do processo de decisão e planejamento educacional. 

Deveres

  • Dever da escola de adaptar-se às necessidades dos alunos, não o contrário.
  • Dever do professor/pedagogo de desenvolver práticas centradas no aluno, diversificadas e mediadas pela tecnologia e metodologias ativas.
  • Dever institucional de monitorar, avaliar e participar de rede com comunidade, familiares e organizações especializadas.
  • Dever do gestor e do sistema de atribuir prioridade à inclusão, mobilizando recursos e políticas.

No contexto de concurso público, essas posições se articulam com o perfil do edital: o docente/pedagogo deve estar preparado para elaborar e implementar o plano de ação de uma escola inclusiva, conhecer direitos humanos, legislação correlata (como Lei n.º 13.146/2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência), e saber articular metodologias ativas detre elas: o STEAM, o design thinking, a gamificação, entre tantas outras metodologias ativas que favorecem a inclusão.


Exercícios

Para fixação e autoavaliação, seguem duas questões no estilo de concurso:

QUESTÃO 01. Segundo a Declaração de Salamanca, é INCORRETO afirmar:
a) Toda criança tem direito fundamental à educação e deve ter oportunidade de atingir e manter um nível aceitável de aprendizagem.
b) Cada criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas.
c) Sistemas educacionais devem projetar-se para acomodar a vasta diversidade dessas características.
d) A escola regular não é o foco da inclusão; o ideal é a segregação em unidades especializadas para crianças com necessidades educativas especiais.

QUESTÃO 02. Um dos deveres da escola regular, conforme a Declaração de Salamanca, refere-se a:
a) Exigir que a criança com deficiência se adapte ao currículo regular sem modificação.
b) Adotar uma pedagogia centrada na criança, capaz de responder às suas necessidades individuais.
c) Priorizar os alunos sem necessidades especiais para maximizar o rendimento escolar.
d) Manter a educação especial separada do sistema regular como medida de eficiência.


QUESTÃO 03: (IBADE - ADAPTADA) Segundo a Declaração de Salamanca, são verdadeiras as afirmativas:

I. Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem.
II. Cada criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas.
III. Escolas regulares que possuem orientação inclusiva constituem os meios mais ineficazes para o combate de atitudes discriminatórias.

a) I e II apenas
b) II e III apenas
c) I, II e III
d) I e III apenas


QUESTÃO 04: (CESPE - ADAPTADA) A educação inclusiva tornou-se uma das preocupações das políticas educacionais em todo o mundo a partir da segunda metade da última década do século passado, com a difusão da Declaração de Salamanca. Com base nesse documento, é correto afirmar que:

a) O acesso de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais ao sistema regular propicia a formação de escolas inclusivas, um dos principais meios para o fortalecimento do princípio da educação para todos.
b) Uma vez que todas as crianças devem ter a mesma oportunidade, devem ser desconsideradas as características individuais.
c) O ato de ensinar deve apoiar-se nas semelhanças entre os alunos.
d) As escolas devem adaptar-se apenas aos alunos com necessidades especiais.

📘 GABARITO COMENTADO – DECLARAÇÃO DE SALAMANCA

Questão 01
Alternativa correta:
(d) A escola regular não é o foco da inclusão; o ideal é a segregação em unidades especializadas para crianças com necessidades educativas especiais.

Interpretação:
A Declaração de Salamanca estabelece que as escolas regulares com orientação inclusiva constituem o meio mais eficaz para combater atitudes discriminatórias e garantir educação para todos. A segregação em unidades especializadas contraria os princípios de inclusão, diversidade e pedagogia centrada na criança, rejeitando práticas de exclusão ou separação dos alunos com necessidades educativas especiais (UNESCO, 1994).

Questão 02
Alternativa correta:
(b) Adotar uma pedagogia centrada na criança, capaz de responder às suas necessidades individuais.

Interpretação:
O documento reforça que a escola deve adaptar currículo, métodos e ambiente escolar às características, interesses e potencialidades de cada aluno. A pedagogia centrada na criança garante que todos tenham oportunidade de aprendizagem efetiva, respeitando as diferenças individuais, como condição fundamental para a inclusão educacional (UNESCO, 1994).

Questão 03
Alternativa correta:
(a) I e II apenas

Interpretação:
As afirmativas I e II refletem os princípios da Declaração: direito à educação para todos e reconhecimento da singularidade de cada criança. A afirmativa III é incorreta, pois o documento afirma que escolas regulares inclusivas são os meios mais eficazes para combater atitudes discriminatórias, não os menos eficazes.

Questão 04
Alternativa correta:
(a) O acesso de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais ao sistema regular propicia a formação de escolas inclusivas, um dos principais meios para o fortalecimento do princípio da educação para todos.

Interpretação:
A Declaração de Salamanca consolidou a educação inclusiva como política global, defendendo que o sistema regular deve acolher todas as crianças, adaptando-se às suas necessidades individuais. A inclusão escolar fortalece o princípio da Educação para Todos (EFA), promovendo equidade, diversidade e participação plena de cada aluno na vida escolar e social (UNESCO, 1994).


Dicas para Concurseiros

  1. Associe o documento à legislação brasileira: Conheça como a Declaração de Salamanca subsidiou políticas nacionais, por exemplo a Política Nacional de Educação Especial, a Lei n.º 9.394/1996 (LDB) e o Decreto n.º 7.611/2011, entre outros.
  2. Decore os “princípios-chave”: direito à educação, diversidade, escola regular, adaptação da escola, participação da família/comunidade. Essas expressões frequentemente aparecem em provas.
  3. Contextualize dentro da BNCC: edificar sua resposta mostrando que a BNCC e as diretrizes nacionais incorporam a ideia de “educação inclusiva” e ambientes de aprendizagem flexíveis — o que valoriza sua argumentação.
  4. Utilize casos práticos: Em questões discursivas, apresente como professor /pedagogo você implementaria metodologias ativas para garantir a aprendizagem de um aluno com necessidades educativas especiais, integrando-o à turma regular.
  5. Prepare-se para questões de gestão escolar: Como futuro coordenador ou supervisor, você pode ser perguntado sobre como a escola deve mobilizar recursos, formar redes e assegurar participação da comunidade - aspecto tratado pela Declaração (planejamento descentralizado e participativo). 

Conclusão

A Declaração de Salamanca representa um marco histórico e normativo para a educação inclusiva: reafirma o direito à educação para todos, reconhece a singularidade de cada aprendiz, exige da escola regular uma postura adaptativa e prevê participação, planejamento e recursos. Para você que se prepara para concursos na área de docência ou pedagogia, o domínio desse documento - e sua articulação com a legislação e práticas atuais — é um diferencial.


Referências:

BRASIL. Declaração de Salamanca: sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Brasília: Câmara dos Deputados, [1994]. Disponível em: https://www.camara.leg.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Tratados_e_Convencoes/Deficientes/declaracao_salamanca.htm . Acesso em: 19 out. 2025.


Como referenciar este texto: 

Blog do Lab de Educador.   Resumo para Concurso: A Declaração de Salamanca. Zevaldo Sousa. Publicado em 19/10/2025. Disponível em <https://blog.labdeeducador.com.br/2025/10/resumo-para-concurso-declaracao-de-salamanca.html>. {codeBox} 

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