Desigualdade Social de Classe, Gênero e Etnia: uma análise sociológica crítica

Desigualdade Social de Classe, Gênero e Etnia: uma Análise Sociológica Crítica

A desigualdade social é um dos pilares que sustentam as injustiças históricas e estruturais nas sociedades contemporâneas. No Brasil, esse fenômeno se manifesta em diferentes dimensões: econômica, educacional, territorial, étnica e de gênero. Segundo Barros et al. (2006), a desigualdade de renda no país está profundamente relacionada à origem social e ao acesso desigdual aos recursos públicos e privados, refletindo a herança de um sistema excludente. Essa configuração histórica molda as oportunidades de vida de milhões de brasileiros e brasileiras, perpetuando um ciclo vicioso de pobreza e exclusão.

A desigualdade de classe é, talvez, a forma mais visível dessa realidade. O sistema capitalista, ao promover a concentração de riqueza e a exploração do trabalho, gera uma divisão entre classes que impacta diretamente o acesso a bens e serviços essenciais. De acordo com Piketty (2014), as desigualdades são retroalimentadas pelo acúmulo hereditário de capital, dificultando a mobilidade social e impedindo uma distribuição equitativa das riquezas produzidas. Além disso, a informalidade, a falta de proteção trabalhista e a precarização do emprego reforçam os abismos entre as classes sociais.

No entanto, as desigualdades de gênero e étnico-raciais são igualmente estruturais. As mulheres continuam a enfrentar uma dupla jornada de trabalho, recebem salários inferiores e estão sub-representadas em cargos de liderança. Autoras como Saffioti (1987) argumentam que o patriarcado e o machismo são elementos fundantes dessa opressão histórica. Ao mesmo tempo, negros e negras são os mais afetados pela pobreza, pela violência policial e pela exclusão educacional e profissional. O conceito de racismo estrutural, discutido por Almeida (2018), é fundamental para compreender como o preconceito se perpetua institucionalmente, atravessando diferentes gerações e se refletindo nos indicadores sociais.

A interseccionalidade, conceito desenvolvido por Kimberlé Crenshaw (1991), nos ajuda a compreender como esses eixos de opressão se entrelaçam, criando experiências sociais marcadas por discriminação múltipla. Uma mulher negra, por exemplo, sofre tanto com o racismo quanto com o machismo e com a desigualdade de classe, sendo colocada em situações de vulnerabilidade extrema. Essa abordagem torna visível o que muitas vezes é invisibilizado pelas análises tradicionais: a complexidade das opressões vividas por grupos marginalizados.

Na educação, essas desigualdades se refletem na evasão escolar, no acesso desigual às universidades e nas condições precárias das escolas em territórios periféricos. A falta de infraestrutura, a ausência de materiais didáticos e a desvalorização do magistério contribuem para a reprodução da exclusão. O mercado de trabalho, por sua vez, segue reproduzindo essas desigualdades com altos índices de desemprego entre mulheres e pessoas negras, conforme dados do IBGE (2022). Além disso, observa-se a manutenção de barreiras invisíveis, como o teto de vidro, que limitam o avanço de minorias nos espaços de decisão.

A naturalização dessas desigualdades é sustentada por discursos ideológicos que culpabilizam o indivíduo por sua condição social, mascarando os fatores estruturais. Paulo Freire (1987) nos alerta sobre a importância de uma educação libertadora que permita a tomada de consciência da opressão e promova a emancipação social. Essa educação crítica deve ser pautada pelo diálogo, pela problematização e pela construção coletiva de saberes, visando à transformação da realidade injusta e excludente.

Políticas públicas, como o sistema de cotas, programas de transferência de renda e legislações de equidade de gênero e raça, são instrumentos fundamentais na luta contra as desigualdades. No entanto, essas ações devem estar alinhadas com uma prática educativa e cidadã crítica, que desafie as estruturas de poder. É necessário que as políticas sejam formuladas a partir das realidades dos sujeitos historicamente excluídos, garantindo sua participação ativa nos processos decisórios.

Assim, combater a desigualdade social não é apenas uma questão de justiça econômica, mas de democracia, dignidade e direitos humanos. Cabe à sociedade civil, aos educadores e aos movimentos sociais atuarem coletivamente por uma sociedade mais igualitária e plural. É urgente romper com as estruturas que perpetuam a opressão, construindo caminhos de solidariedade, inclusão e justiça social duradoura.


Referências

ALMEIDA. Silvia. O que é Racismo Estrutural. Disponível em: https://inegalagoas.org/wp-content/uploads/2020/04/almeida-silvio_-o-que-c3a9-racismo-estrutural_-2-pc3a1ginas-1-17.pdfAcesso em: 25 maio 2025.

BARROS, Ricardo Paes de et al. Desigualdade de renda no Brasil: uma análise da queda recente. Brasília: IPEA, 2006. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/3249. Acesso em: 25 maio 2025.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

SAFFIOTI, Heleieth. A Mulher na Sociedade de Classes: mito e realidade; prefácio de Antônio Cândido de Mello & Souza. Petrópolis, Vozes, 1976. Disponível em: https://cursosextensao.usp.br/pluginfile.php/865709/mod_resource/content/1/Saffioti%20%281978%29%20A_Mulher_na_Soc_Classes.pdf. Acesso em: 25 maio 2025.

IBGE. Estatísticas sociais de gênero e cor/raça no Brasil. 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/25844-desigualdades-sociais-por-cor-ou-raca.html. Acesso em: 25 maio 2025.

CRENSHAW, Kimberlé. Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence Against Women of Color. Stanford Law Review, v. 43, n. 6, p. 1241-1299, 1991. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/1229039Acesso em: 25 maio 2025.

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